sexta-feira, 24 de abril de 2020

Placas tectônicas ajudaram a Terra primitiva a evoluir há 3,2 bilhões de anos

Concepção artística de como as placas tectônicas se formaram
Concepção artística de como as placas tectônicas se formaram
Foto: Alec Brenner/Harvard University

Como e quando a Terra passou de uma bola escaldante para um planeta com condições de abrigar vida é tema de debate entre cientistas há anos. Parte do quebra-cabeça tem a ver com as placas tectônicas, que são cruciais a todos os aspectos do nosso planeta. Os oceanos e continentes situam-se sobre 15 blocos diferentes delas.

O papel das placas na história do planeta vai muito além dos terremotos e da criação de montanhas: elas também contribuem para gerar ambientes propícios para suportar a vida, física e quimicamente.

Um estudo publicado nesta quarta-feira (22) na revista “Science Advances” indica que as placas tectônicas estão ativas há cerca de 3,2 bilhões de anos, muito antes das estimativas anteriores, que variavam entre 1 milhão e 4 milhões de anos atrás.

A dificuldade em se encontrar uma resposta clara sobre a questão recai nas rochas: as que poderiam conter informações sobre a Terra primitiva não existem mais ou foram amplamente alteradas pelo ambiente.

O estudante de doutorado Alec Brenner e o professor-assistente Roger Fu, ambos do Departamento de Ciências Planetárias e da Terra da Universidade de Harvard, buscaram amostras de rochas com mais de 3 bilhões de anos no oeste da Austrália.

“Estudar esse problema é complicado por causa da raridade das rochas formadas há mais de 3 bilhões de anos, que constituem menos de 5% da superfície terrestre”, disse Brenner em uma coletiva de imprensa na terça-feira (21).

Eles coletaram pequenas amostras de rochas de 3,2 bilhões de anos que ainda retêm informações sobre o campo magnético da Terra.
Roger Fu posa ao lado de antigas rochas usadas em estudo sobre as placas tectôni
Roger Fu posa ao lado de antigas rochas usadas em estudo sobre as placas tectônicas
Foto: Alec Brenner/Harvard University

Os pesquisadores usaram um microscópio de diamante quântico, ou QDM, em Harvard, para estudar as amostras. Este estudo é um dos primeiros a usar a recém-desenvolvida tecnologia magnetométrica para geociências, disse Fu durante a teleconferência. O QDM fornece contexto para se medir a idade dos minerais magnéticos nas rochas.

“As rochas podem registrar informações sobre a direção do campo magnético do local onde se formam, e, na superfície da Terra, essa direção está diretamente relacionada à latitude. Portanto, medindo as magnetizações de algumas das rochas mais antigas da Terra, podemos ter uma noção de onde essas rochas se formaram e, depois, medir os movimentos tectônicos dos blocos da crosta ao longo do tempo num passado distante", afirmou Brenner.

Nesse caso, os pesquisadores puderam observar o registro do campo magnético em 235 amostras diferentes de rochas. Juntas, eles mostraram que essa parte da crosta terrestre se deslocava cerca de 2,5 centímetros por ano há 3,2 bilhões de anos atrás. "É muito compatível às velocidades das placas na Terra moderna", disse Brenner.

A Terra primitiva

O estudo sugere que a Terra primitiva era mais parecida com a atual. Isso indica que a vida primordial (composta basicamente de organismos unicelulares) usufruiu de um ambiente mais estável e moderado do que se achava anteriormente.

Quando as placas se movem, elas não apenas formam bacias oceânicas e cadeias de montanhas. Eles também expõem rochas diferentes à atmosfera da Terra, que liberam substâncias e causam reações químicas.

Essas reações provavelmente ajudaram a estabilizar a temperatura da superfície da Terra por um período de bilhões de anos, disseram os pesquisadores. E isso permitiu que a vida evoluísse. "Estamos tentando entender os princípios geofísicos que guiam a Terra", disse Fu. "As placas tectônicas alternam elementos necessários para a vida na Terra."

No estudo, os pesquisadores registraram que não conseguiram descartar totalmente outra possibilidade para a deriva que mediram: a mudança nos polos geográficos do planeta em relação à superfície da Terra, que também poderia fazer com que a superfície se movesse. Mas os pesquisadores creem que seus resultados estavam mais alinhados com o movimento tectônico das placas por causa dos intervalos de tempo medidos.

Esse entendimento das placas tectônicas também pode ser aplicado a outros planetas fora do nosso Sistema Solar. Até agora, a Terra é o único planeta que conhecemos com placas tectônicas.

"A busca por planetas em outros sistemas solares poderá nos levar a entender todo o conjunto de processos que resultaram no surgimento das placas tectônicas na Terra", disse Brenner. "Esperamos que isso nos dê uma ideia de como é fácil para as placas tectônicas surgirem em outros mundos, especialmente considerando todas as ligações entre placas tectônicas, a evolução da vida e a estabilização do clima", disse.

Fonte: CNN