Pesquisa genética do Instituto Adolfo Lutz revela que vírus emergiu em 2013 na Amazônia e que tendência é continuar a se expandir
Estudo inédito do Instituto Adolfo Lutz, previsto para ser publicado na revista científica Science, revela que o vírus da febre amarela percorre 70 km em 30 dias. Além disso, que se trata de uma linhagem emergente – vírus detectado há pouco tempo – da Amazônia e está circulando no país desde 2013.
E ainda: o vírus que afeta São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro tem a mesma origem e chegou a essas regiões ao mesmo tempo e no mesmo período.
Vírus se dirige para onde encontra vetor
Todas essas informações foram obtidas por meio do sequenciamento do material genético do vírus da febre amarela. "Foi possível entender a diversidade genética do vírus e o caminho que ele percorre”, afirma o pesquisador Renato Souza, diretor técnico do Núcleo de Doenças de Transmissão Vetorial do Instituto Adolfo Lutz.
Ele explica que, para chegar a esses dados, ele relacionou o ponto geográfico de origem do vírus a tempo e distância. “O material genético é como se fosse uma linha de dados, que vai ter certa variação. Essa variação pode ser associada a tempo e distância de um gráfico. Então, consigo perceber quando um vírus saiu de Campinas, por exemplo, e chegou a São Paulo”, diz.
“Posso observar se acumulou diferença e quanto de diferença acumulou, conseguindo saber qual a velocidade que se movimentou de um ponto a outro”, acrescenta.
Já o caminho que o vírus vai seguir é aleatório, segundo o pesquisador. “Não diria que ele vai para a esquerda ou para a direita. Ele vai para onde tiver sucesso, onde encontrar vetor e hospedeiro”, explica.
O exame de PCR, também conhecido como teste molecular, foi utilizado para identificar o material genético do vírus da febre amarela para, a partir daí, ser feito o sequenciamento genético. “Para alcançar o grau de diversidade do material genético observado em laboratório, o vírus que circula atualmente no país emergiu há um tempo atrás, pelo menos em 2013, e a tendência é que continue sua expansão”, diz Souza.
O mito de Mariana
O desastre de Mariana como possível desencadeador do surto de febre amarela em Minas Gerais, que teve início em 2016, é totalmente descartado por pelo pesquisador do Adolfo Lutz.
Local da maior tragédia ambiental do país, onde vilarejos foram destruídos com o rompimento da barragem de Fundão em 2015, Mariana é o epicentro da febre amarela em Minas Gerais com 25 casos e sete mortes, de acordo com o último boletim da Secretaria Estadual da Saúde divulgado nesta terça-feira (13).
Apesar da amplitude do desastre, ele afirma que não afetou as populações relacionadas com a febre amarela – o mosquito e o vírus. “Falam que o desastre matou peixe que comia mosquito. Mas o mosquito da febre amarela se reproduz em água acumulada em oco de árvore”, diz.
A grande incidência de febre amarela neste momento no país é vista por Souza como algo “absolutamente natural”. “A doença tem avançado ao longo do tempo para além de suas fronteiras originais. Há evidencias claras da periodicidade entre períodos de reemergência, como o que vivemos agora, e período onde o vírus retorna à sua área endêmica”.
De acordo com o pesquisador, a área endêmica responde a 26% dos casos de febre amarela e as regiões não-endêmicas, a 74%. “Não existe mais fronteira entre a mata e a presença humana. As casas estão inseridas em ambientes mais preservados. Essa mistura de ambientes faz com que o vírus esteja muito mais próximo de nós”.
O número de casos e de mortes em decorrência da doença são maiores que nos anos anteriores, segundo ele, porque o vírus encontrou um maior contingente populacional suscetível – não vacinado. “A febre amarela chegou ao Norte de Minas Gerais e ao Espírito Santo, por exemplo, onde o vírus não circulava havia 70 anos. Ele não encontrou nenhuma barreira ali e circulou amplamente”, diz.
Pesquisa em macacos contaminados
Souza explica que até pouco tempo atrás, os testes em laboratório em relação à febre amarela eram feitos em camundongos. “Por questões éticas, já que o uso de animais em laboratório está sendo universalmente eliminado, nós utilizados atualmente para o isolamento do vírus células C6 e C36 que são de Aedes albopictus continuadas em laboratório. A presença do vírus na superfície da célula é evidenciada por uma substância que permite que ela brilhe em microscópio”, diz.
O pesquisador afirma que o Instituto Adolfo Lutz está monitorando animais do zoológico e de outros parques como medida preventiva para detectar transmissão da doença. Segundo Souza, o instituto tem trabalhado com tecido de mais de 2.500 macacos que morreram em decorrência da doença, a maioria bugio, macaco preto e sagui. “A partir desses animais conseguimos encontrar o vírus, isolar e produzir sequencias. A sequência do material genético é muito interessante para entendermos como o vírus está caminhando, seu processo de dispersão”.
Macacos: vítimas e alidados no combate à febre amarela
Além de não serem os responsáveis pela transmissão da febre amarela, os macacos ajudam mapear a presença do vírus no ambiente. Ao confirmar a morte de um macaco pela doença, as equipes de vigilância sanitária e controle de zoonoses conseguem mapear áreas de risco e organizar campanhas de vacinação.
Fonte: Notícias R7.
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