quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Um mundo mais quente, árido e violento?

Uma análise de estudos sobre o impacto de eventos climáticos na sociedade identifica forte relação causal entre alterações no clima e conflitos humanos ao longo da história. Jean Remy Guimarães discute o tema à luz do aquecimento global já em curso.

Um mundo mais quente, árido e violento?
Estudos sugerem que o aumento da temperatura da Terra levará ao maior número de conflitos sociais. (imagem: sundeip arora/ Scx.hu)

A relação entre calor e violência já foi explorada em diversas obras de ficção, como nos filmes Faça a coisa certa, de Spike Lee, Um dia de fúria, de Joel Schumacher, Rio 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos, e o romance O estrangeiro, de Albert Camus, para citar apenas alguns.

Não se faça de desentendido. Você também é parte desse enredo: atire a primeira pedra se nunca teve impulsos homicidas no auge de um engarrafamento infernal, no ápice de um verão tórrido, em um veículo sem ar condicionado.

Então, já que o planeta caminha para um futuro cada vez mais quente e árido, este será também um futuro mais violento? O bom senso sugere que sim. Todos sabemos que o calor irrita e que o calor sem água enlouquece.  Resta saber de que somos capazes quando irritados ou enlouquecidos. Calma, foi só uma hipótese...

Mas o fato é que essa relação vem sendo pesquisada por muitos autores, há alguns anos. Previsivelmente, os resultados são contraditórios e muito discutidos. Por isso mesmo o prof. Solomon M. Hsiang e seus colegas das universidades de Princeton, Berkeley e Cambridge resolveram radicalizar e abarcar eventos dos últimos 10.000 anos em cinco continentes, em uma espécie de meta-análise de 60 trabalhos que consideraram mais rigorosos e/ou completos, publicados em 26 revistas, por cerca de 200 pesquisadores e tratando de 45 conflitos.

Há uma forte relação causal entre eventos climáticos e conflitos humanos, em diferentes escalas temporais e espaciais e em todas as regiões do globo
O trabalho foi publicado este mês na Science e mostra que, submetida a um tratamento estatístico padronizado, essa massa de dados fala: há uma forte relação causal entre eventos climáticos e conflitos humanos, em diferentes escalas temporais e espaciais e em todas as regiões do globo.

Antes que você saia para comprar um soco inglês ou um AK-47, cabe lembrar que o termo conflito, nesse caso, vai desde o uso intempestivo de buzinas no Arizona quando o calor aperta, passa pelo aumento da pancadaria em torneios esportivos e vai até o colapso de civilizações inteiras, como os maias na América Central, os tiawanakus nos Andes e o reino Khmer de Angkor, no Camboja. Tudo bem, pode ir comprar seus brinquedinhos.

Chichén Itzá
Chichén Itzá, localizada no estado mexicano de Iucatã, funcionou como centro político e econômico da civilização maia. Estudos recentes relacionam mudanças climáticas ao fim dessa civilização. (foto: Leonardo Cânon/ Flickr – CC BY-NC-ND 2.0)

Condutas polêmicas
Os autores evitam sugerir que o clima seja a única ou principal causa de conflitos, mas afirmam que variações importantes do mesmo podem ter efeito importante no surgimento de conflitos em diversos contextos. Chegam a especular que até meados do século 21 o risco de guerra civil poderia aumentar em até 50% em muitos países.

Naturalmente, há céticos que lembram que uma correlação estatística, sem teoria que explique a suposta relação causal, não significa nada.

Portanto, podemos seguir sem culpa usando eletricidade para aquecer água em um país esturricado pelo Sol o dia inteiro e emitindo carbono para não sair do lugar no cenário cada vez mais surreal da imobilidade urbana. No cenário da produção de energia nova e menos suja, sigamos construindo parques eólicos que não têm linha de transmissão para entregar sua produção e hidrelétricas com sistemas incompatíveis com a linha de transmissão, como as do Rio Madeira, já suficientemente polêmicas.

Pesados subsídios aos combustíveis fósseis e à produção de automóveis coexistem com a pesada carga tributária sobre cadeias produtivas ambientalmente corretas. A queda nas emissões de carbono, graças à redução do desmatamento, foi engolida pelo aumento de emissão pelas termelétricas, acionadas para socorrer as hidrelétricas de reservatórios minguados pelas chuvas preguiçosas.

Pensando bem, até que um susto pluviométrico pode ser instrutivo e útil. Mas também sai caro e contribui para futuros sustos de mesma índole
O nó no trânsito devido à opção pelo transporte individual, ele próprio tolhido pelo caos dos ônibus, explorados por consórcios sem fé nem lei, deu no que deu: o país desceu às ruas, que já não estavam fluindo mesmo.

Mas, ora, estamos no inverno e foi tudo por conta dos tais R$ 0,20, direis. Talvez, mas, como sempre, os acidentes e os conflitos são multifatoriais, e o clima aqui tem seu papel: com mais chuvas no lugar e hora certos, estaríamos melhor. Com uma gestão mais eficiente e integrada, também. Mas então talvez não teríamos descido às ruas e as planilhas das empresas de ônibus continuariam pertencendo ao mundo das lendas urbanas, muy urbanas.

Pensando bem, até que um susto pluviométrico pode ser instrutivo e útil. Mas também sai caro e contribui para futuros sustos de mesma índole. Teremos, portanto, novas oportunidades de abordar o assunto.

Ai, ai.


Fonte: Ciência Hoje On Line

Cera de ouvido de uma baleia serve como bioindicador

Testemunha da poluição
A cera de ouvido de uma baleia pode nos dizer muito sobre sua história de vida. Pesquisadores notaram que o material também serve como bioindicador da qualidade dos oceanos.

Testemunha da poluição
A baleia-azul (‘Balaenoptera musculus’) tem o tamanho de um Boeing 737 e seu coração é do tamanho de um carro. Ela pode pesar até 180 toneladas (mais que 25 elefantes juntos) e sua língua pesa 4 toneladas. (imagem: T. Bjornstad/ Wikimedia Commons)

Curiosa descoberta. Informações preciosas sobre a qualidade dos oceanos podem ser aferidas a partir de um indicador nada ortodoxo: a cera de ouvido de uma baleia. O material já vinha sendo bastante usado por biólogos e toxicologistas em diversas pesquisas ao longo dos últimos tempos.

“A cera tem sido usada há décadas para aferir a idade das baleias”, diz o biólogo Stephen Trumble, da Universidade de Baylor (EUA). Quanto mais camadas acumuladas na secreção, mais velho será o animal. O método, na verdade, lembra aquele usado por botânicos para medir a idade das árvores – com base nos anéis de crescimento, visíveis quando se faz um corte transversal em um tronco.

Em parceria com o químico Sascha Usenko, da mesma universidade, Trumble estudou uma baleia-azul (Balaenoptera musculus) que fora encontrada em uma praia da Califórnia em 2007. O animal, que tinha cerca de 12 anos, morrera em uma colisão com um navio. E seu corpo – incluindo a cera de ouvido – estava preservado no Museu de História Natural de Santa Bárbara (EUA).

Após ter acesso às amostras, a dupla de pesquisadores percebeu que, além de informações acerca da idade do animal, a cera de ouvido pode fornecer dados sobre as substâncias químicas às quais a baleia esteve exposta ao longo de sua vida. O método é interessante, mas as notícias não foram boas.


Mares contaminados
Na secreção analisada, foram encontrados vestígios de 16 pesticidas – prova inequívoca de que os oceanos estão cada vez mais poluídos. Encontraram até DDT – o perigoso inseticida já proibido em vários países. Além disso, os cientistas verificaram a presença de mercúrio acumulado na cera de ouvido da baleia-azul estudada.

Cera de ouvido de baleia-azul
Amostras de cera de ouvido da baleia-azul estudada pelos pesquisadores norte-americanos. No material foram encontrados vestígios de 16 pesticidas. (foto: Trumble et al, 2013. PNAS)

O estudo, publicado na PNAS, foi feito com uma única baleia. Portanto, cientistas ainda não têm um banco de dados sólidos com informações coletadas a partir desse método. No entanto, o grande mérito do trabalho parece ser a confirmação de que essa metodologia, de fato, é eficaz para se estudar a biologia das baleias e as pressões antrópicas a que nossos mares estão expostos.

“Foi uma metodologia muito eficaz para averiguar as substâncias químicas a que uma baleia é exposta durante todo o seu período de vida”, diz Trumble. “Pelos métodos tradicionais, teríamos de coletar amostras a cada seis meses, de um mesmo animal, ao longo de toda a sua vida; isso é praticamente impossível do ponto de vista logístico e econômico.”

Nossos oceanos estão cada vez mais poluídos. Com as chuvas, boa parte da poluição antrópica sobre os continentes pode acabar nos mares.

“Baleias são animais tão majestosos e impressionantes, e, quando poluímos os oceanos, nós as prejudicamos diretamente”, disse à CH On-line o toxicologista John Wise, da Universidade de Southern Maine (EUA). “Estudando a cera de ouvido das baleias poderemos descobrir novos caminhos para tornar os mares mais limpos e mais seguros para os animais.”


Ciência Hoje On-line

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Energia Alternativa

Escócia começa a construir maior usina de energia das marés do mundo



O condado de Caithness, no litoral nordeste da Escócia, está prestes a ganhar uma estrutura no fundo do mar que vai gerar energia suficiente para abastecer 175 mil casas. Trata-se da MeyGen, a maior usina de energia das marés do mundo, com potencial total de 400 MW, que começará a ser construída este mês.

Financiada pelo Fundo de Investimento em Energia Renovável do Reino Unido, a iniciativa faz parte de um programa de energia limpa que prevê que até 2050 os britânicos produzam 190 GW de energia renovável. Para a primeira parte do projeto, foram investidas 51 milhões de libras (aproximadamente 203,5 milhões de reais).

Quando estiver concluída, a obra terá 269 turbinas. A empresa responsável pela gestão do projeto, a australiana Atlantis Resources, estima que 61 turbinas fiquem prontas no ano que vem e as restantes em 2020. A previsão é que a usina já comece a gerar e a entregar energia em 2016, com potencial suficiente para abastecer 46 mil casas.

Aproximadamente 25% da energia que vem do mar na Europa provém das costas escocesas, estima o governo. Só a Escócia gera 30% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis, graças, em grande parte, às hidrelétricas. No entanto, o MeyGen é considerado o primeiro projeto de energia das ondas em larga escala no mundo.

PRÓS E CONTRAS
Além de não ocupar muito espaço, essa fonte de energia não emite gases de efeito estufa quando em funcionamento e é renovável, uma vez que é resultado de campos gravitacionais do Sol e da lua, combinados à rotação da Terra em torno de seu eixo. Também é possível gerar energia com velocidades baixas, mesmo a 1 m/s, graças à densidade da água, mil vezes mais alta que a do ar.

No entanto, ainda existem poucos exemplos de usinas de energia das marés no mundo e não foram determinados todos os impactos ao meio ambiente. Acredita-se que, como as barragens de marés dependem da manipulação do nível dos oceanos, as usinas tenham efeitos ambientais semelhantes ao das hidrelétricas.

A construção das usinas também pode interromper a migração de peixes nos oceanos e as turbinas podem atrapalhar a circulação de grandes animais marinhos.

Outra desvantagem desse tipo de energia é o alto custo. Projeções apontam que a energia das marés será comercialmente rentável até 2020, com tecnologias melhores. Mas, para isso, é necessário mais investimento em pesquisa no setor.

Fonte: Planeta Sustentável