segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Nasa tenta descobrir se viagem espacial como em ‘Star Trek’ é possível


05 / 08 / 2013

Além do portão de segurança do campus do Johnson Space Center, em um prédio de vidro e concreto com dois andares e corredores sinuosos, existe um laboratório flutuante.

Harold G. White, um físico e engenheiro de propulsão da NASA, acenou para uma mesa cheia de equipamentos em uma tarde dessas: um laser, uma câmera, vários espelhos pequenos, uma argola feita de capacitores de cerâmica e alguns outros objetos.

Ele e outros engenheiros da NASA vêm projetando e reprojetando esses instrumentos, com o objetivo de usá-los para dobrar levemente a trajetória de um fóton, mudando a distância que ele percorre em certa área e observando a mudança com um dispositivo chamado interferômetro. Seu equipamento de medição é tão sensível que captou inúmeras vibrações da terra, incluindo pessoas caminhando nas proximidades. Eles se mudaram recentemente para esse laboratório, que flutua sobre um sistema de pilares pneumáticos subterrâneos, para evitar perturbações sísmicas.

A equipe está tentando determinar se uma viagem acima da velocidade da luz – a dobra espacial – algum dia será possível.

Dobra espacial. Como em “Star Trek”.

“O espaço vem se expandindo desde o Big Bang, há 13,7 bilhões de anos”, afirmou White, de 43 anos, que comanda o projeto de pesquisa. “E sabemos que, examinando alguns dos modelos de cosmologia, existiram períodos do universo onde houve inflação explosiva, onde dois pontos recuavam um do outro a velocidades muito rápidas”.

“A natureza consegue viajar na velocidade da luz”, disse ele. “Assim, a pergunta é: nós conseguiremos?”

Einstein notoriamente afirmou, segundo White, “não ultrapassarás a velocidade da luz”, basicamente definindo um limite de velocidade intergaláctico. No entanto, em 1994, um físico mexicano, Miguel Alcubierre, teorizou que velocidades acima da luz eram possíveis de uma forma que não contradizia Einstein – embora Alcubierre não tenha sugerido que alguém poderia construir um motor para tal façanha.

Sua teoria envolvia aproveitar a expansão e contração do espaço em si. Segundo a hipótese de Alcubierre, uma nave mesmo assim não poderia exceder a velocidade da luz em uma região local do espaço. Porém, um sistema teórico de propulsão desenhado por ele manipulava o espaço-tempo ao gerar uma chamada “bolha de dobra”, que expandiria o espaço de um lado de uma espaçonave e o comprimiria do outro.

“Dessa forma, a espaçonave seria empurrada para longe da Terra e puxada na direção de uma estrela distante pelo próprio espaço-tempo”, escreveu Alcubierre. White comparou essa ideia a subir em uma esteira móvel num aeroporto.

Entretanto, o artigo de Alcubierre era puramente teórico, e sugeria obstáculos intransponíveis. Entre outras coisas, ele dependia de grandes quantidades de um tipo pouco compreendido de “matéria exótica” que viola as leis básicas da física.

White acredita que avanços conquistados por ele e por outros tornaram a dobra espacial menos impossível. Entre outras coisas, ele redesenhou a aeronave teórica de viagem na velocidade da luz – e em particular uma argola ao redor dela que é essencial para seu sistema de propulsão – de uma forma que, segundo ele, pode reduzir bastante a necessidade de energia.

Mesmo assim, ele é rápido em apresentar suas próprias ressalvas, dizendo que sua pesquisa da dobra é similar a um projeto de estudo universitário que está tentando provar que uma bolha de dobra microscópica pode ser detectada em laboratório. “Não estamos amarrando isso a uma espaçonave”, afirmou ele sobre a tecnologia da dobra.

White era um engenheiro com experiência na indústria aeroespacial quando foi à NASA em 2000, iniciando sua carreira na agência operando braços de ônibus espaciais. Ele obteve seu doutorado em física pela Rice University em 2008, e hoje trabalha com uma gama de projetos buscando levar a NASA além dos foguetes que sempre caracterizaram a viagem espacial.

Para a NASA, os experimentos de White com a dobra não representam quase nada em seu orçamento, com cerca de US$50 mil em equipamentos em uma agência que gasta

quase US$18 bilhões anualmente. A agência está muito mais focada em projetos mais viáveis – construir a próxima geração de aeronaves Orion, trabalhar na Estação Espacial Internacional e preparar-se para uma futura missão de capturar um asteroide.

Mesmo assim, a NASA disponibilizou recursos internos para o projeto e liberou outros engenheiros para ajudar White. Além disso, restaurou o sistema pneumático do laboratório utilizado por White, para permitir sua flutuação. O laboratório costumava ser usado para testar equipamentos para missões Apollo, e possui painéis de controle por baixo dele que parecem pertencer a um abrigo esquecido pelo tempo.

Steve Stich, diretor adjunto de engenharia no Johnson Space Center, declarou: “Precisamos sempre manter um olho no futuro”. E ergueu seu iPhone.

“Há quarenta anos, isto era o Capitão Kirk, do Star Trek, falando através de um comunicador sempre que necessário”, comparou ele. “Hoje, porém, este dispositivo existe porque criaram a tecnologia de bateria que permite sua existência, trabalharam na tecnologia de software, desenvolveram a tecnologia computacional, a tela sensível ao toque.”

Teoricamente, uma dobra espacial poderia reduzir o tempo de viagem entre estrelas de dezenas de milhares de anos a semanas ou meses. Contudo, provavelmente não estaremos fazendo reservas nesses voos tão cedo.

“Minha opinião é que a ideia, por enquanto, é maluca”, argumentou Edwin F. Taylor, ex-editor da publicação “The American Journal of Physics ” e pesquisador do MIT. “Fale comigo dentro de cem anos”.

Todavia, segundo Richard Obousy, um físico que preside o Icarus Interstellar, grupo sem fins lucrativos composto por voluntários colaborando em projetos de espaçonaves, “isso não é um conto de fadas”.

“Costumamos superestimar o que podemos fazer em curtos períodos de tempo, mas acho que subestimamos massivamente o que conseguimos fazer em períodos mais longos”, afirmou ele sobre o trabalho de White, que é seu amigo e colaborador no grupo Icarus.

White comparou seus experimentos aos primeiros estágios do Projeto Manhattan, que foi focado em criar uma reação nuclear muito pequena – meramente como prova de que isso poderia ser feito.

“Eles tentaram ir adiante e demonstrar um reator nuclear, e gerar meio watt”, explicou ele. “Isso não é algo que se vá comercializar. Ninguém irá comprar isso. Tratava-se apenas de confirmar que eles entendiam a Física e a Ciência”.

Segundo Neil deGrasse Tyson, conhecido astrofísico do American Museum of Natural History, seria preciso um salto além de nossa tecnologia atual para tornar a viagem interestelar mais plausível.

“A viagem rotineira às estrelas é impossível sem novas descobertas quanto ao material do espaço e tempo, ou a capacidade de manipulá-los para nossas necessidades”, argumentou ele, acrescentando: “Em minha leitura, a ideia de uma dobra espacial funcional continua muito distante, mas a verdadeira boa notícia é que as pessoas estão pensando no assunto – lembrando a todos que o desejo de explorar continua forte em nossa espécie”.

Ainda assim, um dos mais em dúvida é o próprio Alcubierre. Ele listou diversas preocupações, começando com a grande quantidade de matéria exótica que seria necessária.

“Da maneira como está sendo vista hoje, a dobra espacial é impossível”, disse ele. E colocou uma questão ainda mais fundamental: como ela seria ligada?

“Em velocidades superiores à da luz, a frente da bolha de dobra não pode ser alcançada por nenhum sinal de dentro da nave”, garantiu ele. “Isso não significa apenas que não podemos desligá-la; é ainda pior. Significa que não conseguiríamos nem mesmo ligá-la”.

White, que nunca conversou com Alcubierre, declarou: “Aprecio os pensamentos dele. Não sei se concordo com todas as suas observações, com base em alguns trabalhos que realizei”.

“Eu e ele certamente poderíamos discutir por bastante tempo”, concluiu. (Fonte: Portal Ambiente Brasil)

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